Meditação ( fase da acomodação)
Existiam diversas maneiras de conseguir poder, mas muitos deles remetiam ao poder subjetivo, o poder da palavra, que os políticos carregavam consigo, o poder da influência, que os ricos e poderosos utilizavam, capazes de moldar os países de formas sutis ao seu bel prazer, no entanto só tinha uma forma naquele mundo de obter o poder literal, que tornava o portador da própria palavra capaz de moldar o mundo, com os próprios punhos, causando terror, respeito, admiração, atração e repulsa, uma gama de coisas que tornava cada portador dessa fagulha divina único, separando-os internamente pela capacidade de chegar ao topo.
O nome dessa fagulha divina? Nen, somente os escolhidos por eles poderiam aumentá-la, tornando-a um grande incêndio ou apenas cinzas, na mente de Andrei, estava na hora de descobrir exatamente em qual lugar da pirâmide estaria localizado, entre aqueles que serviam como adubo para o crescimento dos demais, ou os que devorariam o mundo e seus inimigos. Os passos calmos do loiro o levaram até a sala de meditação, onde nos próximos dias seria o seu lugar de morada, tinha um entendimento de como fazer, graças aos conselhos de seu velho, então forçaria o corpo até o limite para se conectar com a energia que reluzia no interior de cada ser vivo capaz. Naquele início de manhã entenderia até onde poderia chegar.
Sentou-se sobre o tatame feito de palha entrelaçada, aquele piso lhe proveria algum conforto para as longas horas que seriam despendidas ali. Tomou então a posição de meia lótus, mais conhecida como Sukhasana, nunca havia meditado anteriormente, portanto uma maneira mais fácil de se acomodar era necessária naquele dia, acertou a postura e também buscou calar os próprios sentidos, que eram muito mais aguçados do que qualquer ser humano comum, cerrando os olhos e criando um compasso de sua respiração, buscando colocar a partir daquele momento a concentração toda em sua busca interior, precisava entender seu próprio fluxo, e dele retirar a energia que seria a provedora de seus objetivos.
Mergulhou então, lentamente em uma calmaria que não havia sentido anteriormente, os sentidos se voltaram para dentro, sentia as pernas formigarem graças à falta de costume com posturas de meditação, não sentia dor, na verdade aos poucos a sensação de formigamento se transformou em ausência de qualquer sensação, como se o seu corpo lentamente se livrasse de qualquer distração que poderia quebrar o ciclo de acomodação que estava sendo criado. O despertar do nen era uma grande viagem em busca de seu fluxo interno, mas para isso precisava conhecer cada centímetro de seu corpo perfeitamente, assim como o da própria alma, desvendar as fronteiras entre o físico e o etéreo era uma missão árdua.
Conseguia sentir ainda, claramente a sala ao seu redor, as paredes de papel de arroz, o teto que se encontrava dois metros acima de sua cabeça, feito de madeira de pinheiro, sua percepção ainda era ampla, precisava reduzir, não queria entender o mundo ao seu redor, e sim o próprio mundo interior. A respiração se tornava mais lenta e calma, à medida que excluía cada centímetro de sua percepção, transformando aquele mundo em um vazio absoluto, recheado apenas por sua presença. Podia ouvir os próprios batimentos, e finalmente o som de um rio, não… Não era um rio.
A correnteza do rio na verdade era seu próprio sangue, circulando em cada poro de seu corpo, a cada batimento a correnteza se agitava e se acalmava logo após, era uma barreira entre ele e sua busca pelo fluxo de energia interior, precisava encontrar os nós de aura em seu interior, mas para isso a absoluta concentração deveria existir. A respiração reduziu ainda mais a velocidade e frequência, subsequentemente os batimentos foram pouco a pouco reduzindo sua força, assim como a correnteza interior, que permitia ele finalmente à mergulhar mais fundo.
Mergulhou em sua própria consciência e corpo, envolto em escuridão e silêncio, até que começou a sentir algo diferente em sua pele e células, uma vibração que nunca havia sentido anteriormente, e, quando pensou que estava perto de uma grande resposta, uma dor excruciante fez com que Andrei tombasse para frente, retomando o fôlego subitamente enquanto seus batimentos se agitaram, era como se o próprio peito estivesse prestes a explodir. A boca seca, os olhos colados e o suor pesado sobre o corpo se tornaram rapidamente um desconforto, que fez o loiro buscar abrir os olhos de imediato, encontrando somente escuridão ao seu redor, além da sensação clara que agora entendia de maneira clara, havia quase morrido.
Quantas horas haviam se passado? Bom, para um primeiro dia tudo tinha saído melhor do que o esperado.